data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
Os moldes atuais do ambiente acadêmico não são tão novos assim. Por séculos, apenas homens brancos, das altas classes, podiam frequentar as universidades. Com dificuldades e uma luta constante, outras pessoas passaram, aos poucos, a ocupar esses espaços. Ainda que seja uma presença tímida, os campi começam a ter um pouco mais de diversidade. Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o primeiro aluno indígena colará grau no curso de Direito na próxima sexta-feira. O momento é histórico, visto que o curso está prestes a completar seis décadas.
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Rodrigo Mariano, ou Kuaray (que significa Sol, em Guarani), 26 anos, viveu durante toda a vida em aldeias. Em 2013, foi aprovado para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde começou a cursar Direito. No entanto, a vida na capital era muito diferente da realidade que ele conhecia. Depois do primeiro semestre, resolveu trancar o curso e prestou vestibular novamente. Foi aí que a sua história cruzou com a de Santa Maria.
Aprovado aqui, veio morar na Casa do Estudante Universitário (CEU), onde ficou por três anos. Com a inauguração da Casa do Estudante Indígena, Rodrigo se mudou para lá.
- Acho que, em todos os cursos, a gente enfrenta o despreparo da instituição como um todo para receber diferentes povos e diferentes culturas. Então, penso que esse é o principal desafio que a gente enfrenta em uma universidade. Isso e o preconceito - afirma o bacharel.
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A persistência em apresentar a sua cultura de origem aos colegas e professores foi marcante durante a trajetória acadêmica de Rodrigo. Ele integrou o Diretório Acadêmico do curso, organizando eventos e palestras que abordassem as temáticas das diferentes culturas dos povos originários. Em 2019, defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na aldeia que o acolheu em Santa Maria:
-A experiência foi rica, porque se leva a academia para conhecer a realidade das aldeias. Não adianta passar a graduação inteira discutindo questões de fora do curso e, no final, fazer tudo da maneira padrão - conta.
PARA O FUTURO
Rodrigo se prepara para prestar a segunda fase do exame da Ordem dos Advogados (OAB) e já foi chamado para integrar a Rede de Advogados Indígenas do Brasil. A ideia é manter na profissão o que praticou no curso: espalhar a sua cultura e defender os direitos do seu povo.
- O Direito é uma área importante, falando estrategicamente no sentido de fazer o enfrentamento na defesa dos nossos direitos, tendo em vista que o maior campo de discussão sobre os direitos indígenas é no judiciário - explica Rodrigo.
Além de querer atuar enquanto advogado, o bacharel não descarta a possibilidade de cursar Mestrado, para continuar pesquisando as temáticas que desenvolveu na faculdade.